A simetria está em todos os lugares, nos pequenos ou nos grandes detalhes do mundo a nossa volta. Ao andar pelas ruas, olhamos para prédios, carros, pessoas e lá está ela. Quase nem reparamos, pois essa simetria estamos acostumados a ver e a reconhecer. Ela já não nos surpreende. Entretanto, não estamos acostumados a uma simetria que "inventa" algo novo para nossos olhos, criada com o objetivo de formar imagens diferentes, inusitadas, divertidas e, algumas vezes, lúdicas.
Toda essa coleção "bebe" respeitosamente nos cartemas de Aloísio Magalhães. A criação do artista e designer pernambucano provoca e povoa o imaginário de muitos desde os anos de 1970 – foi exatamente em 1972 que o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro abrigou a exposição Cartemas (série brasileira).
Quem usou pela primeira vez o termo cartema foi o filólogo Antônio Houaiss ao se deparar curioso e alegre com a nova criação de Aloísio Magalhães. O neologismo resulta da associação do radical cart- (de cartão-postal) com o sufixo -ema (na acepção de "unidade mínima estrutural").
Cartema é uma forma de composição visual, uma montagem feita a partir de uma mesma imagem (ou de partes dela). É a busca de um ritmo por meio da repetição cujo resultado é uma nova unidade visual na qual a imagem original perde sua significação. Os cartemas são a chave que abre a fotografia para o campo do abstracionismo.
Esta coleção reúne diversos livros que pretendem revelar um outro olhar sobre o Brasil, a partir de fotografias de variados temas: natureza e meio ambiente, flora, fauna, cidades, arquitetura e manifestações culturais. Em outras épocas, muitas dessas belas fotos, usadas nas composições deste livro, bem poderiam ter sido cartões-postais. Entretanto, postais agora circulam muito menos. Hoje, imagens como essas podem ser veiculadas instantaneamente, já que a fotografia está acessível a todos e tudo é registrado e publicado com um simples toque dos dedos.
A coleção não é, nem pretende ser "100% cartema". Muitos princípios de montagem se assemelham, mas a própria substância fundamental das composições, a fotografia digital, e não mais o cartão-postal, já demarca uma distinção. Além disso, os recursos de hoje permitem que a união das imagens e de suas partes se dê de forma quase imperceptível, ao contrário das junções resultantes da colagem dos postais e, óbvio, isto ajuda a "brincar com o olhar". Mais ainda: muitas das composições aqui apresentadas fazem uso do espelhamento, diferente dos cartemas originais. Por outro lado, os princípios de deslocamento e rotação das imagens, comuns aos cartemas de Aloísio, foram bastante usados.
Informações sobre o autor
Sou carioca, estudei no Colégio Pedro II e na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na década de 1980 e início dos anos de 1990, trabalhei na Embrafilme e na Cinemateca Brasileira.
Em 1992, fundei a Figurativa Editorial e passei a atuar principalmente na área educacional, tendo produzido centenas de obras didáticas. Em 2012, fundei a SG-Amarante Editorial, continuei editando e produzindo publicações educacionais, mas comecei a editar livros próprios, entre eles Motivação e formação de equipes na gestão pública (P. Rodrigues), Sexualidade e transgressão no Cinema de Pedro Almodóvar (A. C. Egypto), Coaching – pessoas ao encontro de si mesmas (Adriana Netto), Advocacy – como a sociedade pode influenciar os rumos do Brasil (Daniela Castro) e alguns livros infantis.
Agora um pouco da história da Coleção A simetria brinca com o olhar. Conheci Aloísio Magalhães muito rapidamente, no final de 1980, pouco antes de ele ser nomeado Secretário de Cultura do MEC. Jovem estudante fui a ele, então diretor do IPHAN, pedir ajuda financeira para realizar um congresso de cineclubes em Mato Grosso. Achei que bateria na sua porta e nada receberia. Para minha surpresa, fui gentilmente recebido e meu pedido plenamente aceito. Anos depois, pelas mãos de um amigo comum, recebi o catálogo da exposição Cartemas: a fotografia como suporte de criação, que a Funarte promoveu logo após a repentina morte de Aloísio em 1982. Reconheci imediatamente o autor. Tive amor à primeira vista por seus cartemas e assumi a condição de admirador. Percebi tardiamente que aquele homem tinha algo diferente (quanta ignorância a minha, pois ele era muito maior do que eu imaginava). Desde então, deixei de ser observador e passei a montar os meus cartemas, a experimentar técnicas e criar novas imagens. Sempre que possível, voltava das viagens com a mala cheia de cartões-postais e ficava horas fazendo minhas montagens. Com a chegada da era digital, os cartemas ganharam mais força, acabamento e experimentei muito mais...
Chegou a hora de dividir!
1ª edição – 2017
Coleção de 6 livros
Formato: Livro
Autor: Ricardo Soares
Editora: SG-Amarante Editorial
Categoria: Arte fotografia
Páginas: 48 (cada livro)
ISBN: 978-85-66390-12-4